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Ao redor do mundo, uma conspiração monolítica implacável se opõe a nós. Baseia-se, primeiramente, no encobrimento para expandir sua esfera de influência. É um sistema que tem recrutado vastos recursos materiais e humanos para formar uma poderosa e eficiente máquina, que combina operações militares, diplomáticas, de inteligência, económicas, científicas e políticas. Suas preparações são ocultas do público. Seus erros são enterrados. Não vão para capas de jornais. Seus discordantes são silenciados, não aclamados.”

John F. Kennedy

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História de um Holocausto

História de um Holocausto


Para Robert Gates, secretário da Defesa de Obama, trata-se da segurança em primeiro lugar. Foi essa a sua lição depois do furacão Katrina. Primeiro os militares, depois a água. Blackwater antes da água potável.
Por Greg Palast, para o The Huffington Post

1.

Agradeça-se ao presidente por ter colocado equipas de resgate no ar de imediato. Refiro-me ao presidente da Islândia, Olafur Grimsso. Na quarta-feira, a Associação de Imprensa declarou que o presidente dos Estados Unidos prometeu que: "o contingente inicial de 2000 soldados deve ser enviado para o país devastado pelo terramoto nos próximos dias." Nos próximos dias, sr. Obama?

2.

Não existe tal coisa como um desastre "natural." 200 mil haitianos foram chacinados devido à existência de bairros de lata e aos planos de "austeridade" do FMI.

3.

Uma amiga ligou-me a perguntar se conhecia algum jornalista que conseguisse medicamentos para o pai dela. E acrescentou, tentando manter a voz: "a minha irmã está debaixo dos escombros. Vai vir alguém que possa ajudar, alguém?" Deveria dizer-lhe: "Obama vai enviar soldados para lá nos ‘próximos dias’"?

4.

A China enviou equipas de resgate com cães farejadores após 48 horas. A China, Sr. presidente. A China está a 8.000 milhas de distância. Miami é só a 700 milhas. Bases dos EUA em Porto Rico: praticamente lá.

5.

Robert Gates, secretário da Defesa de Obama afirmou, "Não sei de que forma este governo poderia ter respondido mais rápida e exaustivamente do que o fez." Nós sabemos que Gates não sabe.

6.

Do meu trabalho no terreno, sei que o FEMA (Federal Emergency Management Agency, Agência Federal de Gestão de Emergências) tem acesso a água potável, geradores, equipamento médico móvel e mais, para a assistência a furacões na Costa do Golfo. Ainda lá estão. O Tenente General do Exército Russel Honoré, que serviu como comandante nos trabalhos para a resposta imediata à emergência após o furacão Katrina, disse à Christian Science Monitor: "Pensei que tínhamos aprendido com o Katrina a levar comida e água e a começar a evacuar a população." Talvez tenhamos aprendido mas, aparentemente, Gates e o Departamento de Defesa faltaram às aulas nesse dia.

7.

Enviar soldados. É essa a resposta da América. É nisso que somos bons. O porta-aviões USS Carl Vinson apareceu finalmente ao fim de três dias. Com o quê? Foi teatralmente enviado – sem quaisquer apoios de emergência. Tem mísseis sidewinder e 19 helicópteros.

8.

Mas não se preocupem, a Equipa de Resgate Internacional, totalmente equipada e auto-suficiente para sete dias no terreno, enviou de imediato juntamente com dez toneladas de ferramentas e equipamento, três toneladas de: água, tendas, equipamento de comunicação avançada e equipamento para purificação da água. Eles são da Islândia.

9.

Gates não enviaria comida e água porque, segundo ele, não existia uma "estrutura … que garantisse a segurança." Para Gates, nomeado por Bush e mantido no cargo por Obama, trata-se da segurança em primeiro lugar. Foi essa a sua lição depois do furacão Katrina. Primeiro os militares, depois a água. Blackwater antes da água potável.

10.

Os anteriores presidentes dos EUA enviaram tropas para o terreno naquela ilha bastante mais rapidamente. O Haiti é a metade direita da ilha Hispaniola. É chamado de testículo direito do Inferno. A República Dominicana é o esquerdo. Em 1965, quando os dominicanos exigiram o regresso de Juan Bosch, o seu presidente eleito, deposto por uma junta, Lyndon Johnson reagiu rapidamente a esta crise, enviado 45.000 soldados dos EUA para as praias para evitar o regresso do presidente eleito.

11.

Como é que o Haiti acabou por ficar economicamente enfraquecido, com infra-estrutura, desde hospitais a sistemas de água, rebentadas ou inexistentes – existem dois quartéis de bombeiros no país inteiro – e infra-estruturas tão frágeis que o país estava simplesmente à espera que a "natureza" acabasse com elas?

Não se culpe a Mãe Natureza por todas estas mortes e destruição. Essa culpa cabe a Papa Doc e Baby Doc, a ditadura Duvalier, que roubou a nação durante 28 anos. Papa e o seu Baby meteram ao bolso cerca de 80% da ajuda mundial – com a cumplicidade do governo dos EUA, satisfeito por ter os Duvalier e as suas milícias, os Tonton Macoutes, como aliados durante a Guerra Fria. (A guerra foi facilmente ganha: os esquadrões da morte dos Duvalier assassinaram cerca de 60.000 opositores ao regime.)

12.

O que Papa e Baby não conseguiram roubar, foi acabado pelo FMI com os seus planos de "austeridade". Um plano de austeridade é uma espécie de magia negra orquestrada pelos economistas zombie-ficados por uma convicção irracional que os cortes nos serviços governamentais irão de alguma maneira ajudar a prosperidade da nação.

13.

Em 1991, cinco anos após a fuga do assassino Baby para o exílio, os haitianos elegeram um padre, Jean-Bertrand Aristide, que resistiu aos decretos dogmáticos de austeridade do FMI. Após alguns meses, os militares, para júbilo do Papá George HW Bush, depuseram-no.

A História repete-se, primeiro como tragédia, depois com a farsa. A farsa foi George W. Bush. Em 2004, depois do padre Aristide ter sido reeleito Presidente, foi raptado e deposto novamente, para júbilo do Bébé Bush.

14.

O Haiti já foi uma nação rica, a mais rica do seu hemisfério, valia mais, escreveu Voltaire no século XVIII, que essa colónia rochosa e fria chamada New England. A riqueza do Haiti estava no ouro negro: os escravos. Mas depois os escravos revoltaram-se – e têm pago por isso desde então.

De 1825 a 1947, a França forçou o Haiti a pagar uma contribuição anual para reembolsar os lucros perdidos pelos proprietários franceses de escravos em consequência da revolta dos seus escravos. Em vez de escravizar indivíduos haitianos, a França preferiu simplesmente escravizar a nação inteira.

15.

O Secretário Gates diz-nos, "Existem apenas alguns factos da vida que afectam a rapidez com que se fazem algumas destas coisas." O navio-hospital da Marinha vai lá estar daqui a cerca de uma semana. Grande trabalho, Brownie!

16.

Uma mensagem da minha amiga recebida. A irmã dela foi encontrada, morta; e a outra irmã dela teve de a enterrar. O pai dela precisa dos medicamentos anti-epilépticos dele. Isso também é um facto da vida, sr. presidente.



Através da nossa rede de jornalistas, estamos a tentar fazer chegar os medicamentos ao pai da minha amiga. Se algum leitor conhecer alguém que esteja a caminho de Port-au-Prince, por favor contacte Haiti@GregPalast.com Este endereço de email está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email imediatamente.

Recomenda-se uma leitura urgente – The Black Jacobins: Toussaint L’Ouverture and the San Domingo Revolution, a história da revolta bem sucedida dos escravos em Hispaniola de autoria do brilhante CLR James.

Traduzido por: Sara Vicente

in http://zequinhabarreto.org.br/?p=5396

0 sdt2010:

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