Político alemão, durante anos presidiu ao FDP (liberais) e ajudou o partido a tornar-se uma peça fundamental da governacão da Alemanha Ocidental em coligações com o SPD e a CDU.
José Cutileiro (www.expresso.pt)
0:01 Sábado, 26 de Dez de 2009
Otto Friedrich Wilhelm Freiherr von der Wenge Graf Lambsdorff - isto é, barão de Wenge e conde Lambsdorff - que morreu no passado sábado, dia 5, em Bona onde há muitos anos vivia, nascera numa família aristocrática alemã com grande tradição de serviço público originária da Vestefália, nobilitada no século XIV, que se viera a estabelecer mais tarde na Livónia, sobre o Mar Báltico, de cujo solar ancestral ao longo de gerações haviam saído membros ilustres da corte dos czares - perto do nosso tempo, o conde Vladimir Lamsdorff (nem todos os ramos da família ortografavam o nome da mesma maneira) fora ministro dos Estrangeiros do czar Nicolau II de 1901 a 1906 e um general Lambsdorff distinguira-se na infantaria imperial - sem nunca por isso deixarem de ser e de se sentirem fidalgos alemães, de tal maneira que quando a revolução, primeiro menchevique e depois bolchevique, triunfou e substituiu no Kremlin Nicolau II por Lenine, o pai de Otto, que saíra cadete da academia militar russa, fugiu para a Alemanha ancestral estabelecendo-se como homem de negócios em Aachen (que conhecemos mais em Portugal por Aix-la-Chapelle, cidade na qual o imperador Carlos Magno se fez coroar) onde seu filho viria a nascer.
A primeira metade do século XX não deu muito tempo seguido de sossego aos habitantes do Norte e do Centro da Europa e aos 17 anos, mal saído do liceu, com a Alemanha a recuar a passos largos para a derrota, Otto foi mobilizado, perdendo uma perna durante ataque aéreo aliado em 1944. Era ainda prisioneiro de guerra quando se matriculou na faculdade de direito de Bona.
Advogou, trabalhou na banca mas cedo foi atraído pela vida política, entrando para o partido liberal (o Partido Democrata Livre) a que viria a presidir e que ajudou a confirmar como elemento fundamental da governação político-partidária da Alemanha Ocidental, desde o começo dos anos 70 até 1998. Embora raras vezes obtendo nas eleições gerais mais de 8% dos sufrágios, ao aliarem-se primeiro com os sociais democratas (1972-1982), depois com os conservadores (1982-1998) os democratas livres participavam no governo com a pasta dos estrangeiros e da economia. Titular desta, foi Lambsdorff quem instigou a mudança do centro-esquerda para o centro-direita, por considerar a orientação de Helmut Schmidt demasiado estatizante. Em 1984, um escândalo de financiamento partidário ilícito pelo grande grupo industrial Flick levou-o a abandonar a pasta mas, absolvido de corrupção e apenas multado por evasão fiscal, manteve o seu lugar de deputado e foi chefe do partido até 1994.
Em 1999 o chanceler Schroeder encarregou-o de negociar pelo lado alemão, com os Estados Unidos, as indemnizações a pagar às vítimas de trabalho escravo imposto pelos nazis a judeus e a alguns outros (a sua nomeação foi de entrada mal aceite por grupos judeus por ter feito a guerra no exército de Hitler). Grandes companhias alemãs estavam a ser processadas em tribunais americanos. Depois de dois anos de negociação o resultado foi melhor do que o que as vítimas ou os seus descendentes teriam conseguido em tribunais. No total a Alemanha pagou mais de 7500 milhões de dólares. Lambsdorff fora, como era seu costume, competente e implacável, alertando os empresários alemães para o risco de uma guerra comercial com os Estados Unidos mas obtendo garantia de que não haveria mais processos.
Era homem elegante na presença, no raciocínio e na coragem de posições, que se distinguira num Bundestag de gente cinzenta, consensual, quase envergonhada às vezes de ser alemã. O tempo não lhe enfraqueceu a fibra: durante a recente crise financeira, enquanto eram alvitradas nacionalizações da banca continuou a verberar tentações que o Estado tivesse de se meter nessas coisas.
Há 16 anos que vinha quase todas as Primaveras a Portugal para os 'Arrábida Meetings' da Fundação Oriente, espécie de mini-Bilderberg a cuja direcção pertencia. Também lá o seu rigor mordaz vai fazer falta.
Texto publicado na edição do Expresso de 19 de Dezembro de 2009
in http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/553161
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Dr. Otto Graf Lambsdorff (Aachen, 20 de dezembro de 1926 - Bonn, 5 de dezembro de 2009) foi um político alemão, membro do Partido Democrata Livre.
Entre 1977 e 1982, e depois entre 1982 e 1984, ele foi ministro da economia da República Federal Alemã, bem como presidente do FDP entre 1998 e 1993.
Deste 2004, o seu sobrinho Alexander Graf Lambsdorff representa o FDP no Parlamento Europeu.